Como se sente sendo o vencedor da quarta edição do The Voice Portugal?
É um sensação muito boa. De realização, alívio e de paz interior, por ter conseguido aquilo que sempre disse que queria neste programa, que era vencer. Escolhi uma música cantada por uma mulher porque sabia que ia ter impacto ao ser cantada por um homem, tal como teve a da Prova Cega.
Quando ouviu Catarina Furtado e Vasco Palmeirim dizerem que era o vencedor, ajoelhou-se. Esse gesto teve alguma mensagem subjacente?
Não tive mais forças para me segurar e acabei por me deixar levar. Aquela era a única coisa que me faltava ouvir para me sentir realizado. Sinto-me super cansado, mas passava por tudo outra vez, só para voltar a viver aquele momento.
Se voltasse atrás, escolheria Mickael Carreira como seu mentor?
Sem dúvida! Faria tudo igual. Ele é uma pessoa humilde, que ajuda e faz questão de estar presente. Está sempre disponível e é super descontraído, o que ajudou na comunicação entre nós.
Como nasce esta paixão pela música?
Olhei para a música como um porto de abrigo, um refúgio para os problemas. Fez-me fazer da música a minha melhor amiga. Estive sempre lá para ela e agora acreditei que ela ia estar cá para mim. Felizmente, foi isso que aconteceu.
A que problemas se refere?
O divórcio dos meus pais, por exemplo. Quando tinha 10 anos, o meu pai teve um acidente, esteve em coma, sofreu um AVC e senti-me sem rumo. Os meus amigos queriam que eu saísse, mas não tinha vontade. Queria ficar por casa, perto dele, mas, ao mesmo tempo, não queria que ele pensasse que eu tinha deixado de viver. Fui ficando no meu quarto, ouvia música e ás vezes ele vinha-me ouvir. Foi assim que tudo começou.
Quando os seus pais se divorciaram a sua mão foi viver para o Luxemburgo. Mantêm uma boa relação?
Sim, visito-a sempre que posso. Já visitei mais e durante mais tempo. Tento sempre que estejamos juntos pelo menos uma vez por ano.
Ela viajou de propósito para estar presente na final do programa?
Sim. Esta vinda dela cá foi propositada por causa da final do The Voice. Ainda estava a concorrer, na fase do tira-teimas, e ela disse: "Vou comprar os bilhetes de avião para o Natal. Trata de chegar até ao fim e vencer o programa". Fiz tudo por isso. Há 10 anos que eu não tinha a minha família reunida nesta época. Foi um Natal muito especial.
Como é que ela acompanhou este percurso musical?
Quando a minha mãe partiu, ainda não tinha noção daquilo que queria ser. Ela perdeu muita coisa. Quando ela embarcou, eu jogava futebol e ela sempre pensou que eu enveredasse por aí. Até que lhe contei que era a música que queria. O meu primeiro vídeo na Internet foi publicado durante uma das visitas que lhe fiz. Ao menos estava longe de casa e não passava vergonhas. Quando chegasse cá, já toda a gente se tinha esquecido [risos].
Quando é que percebeu que queria fazer da música carreira?
Comecei a querer cantar entre os 10 e os 12 anos. Com essa idade já tinha a tentação de participar em programas de televisão, mas preferi amadurecer e só mais tarde arriscar. Entrei no Factor X com 17 anos, Fiquei perto da final e jurei que esta seria a última vez. À medida que vou tendo mais experiências, a vontade de aprender vai crescendo.
Sofreu muitas desilusões?
Houve pessoas que não acreditaram em mim e que me usaram que viram que eu estava no auge. Tentaram usufruir disso para ver se conseguiam algum benefício. Como viram que as coisas não correram da melhor forma, descartaram-se. Sinto que fui desvalorizado no outro programa e isto é uma chapada de luva branca para as pessoas que me usaram para criar um boneco que eu não era.
Quem são essas pessoas?
São pessoas de uma editora...
Foram-lhe feitas promessas que não foram cumpridas?
Sim. Prometeram lançamentos de singles, cheguei a fazer sessões fotográficas, a marcarem coisas, e quando chegava aos locais é que diziam que já não iam comparecer. Arranjaram-me um produtor, mas nunca lançaram as minhas músicas. Juraram-me que se o projeto não corresse bem as músicas ficavam para mim. E não as tenho, só tenho esboços. Mas esta vitória tapa esses buraquinhos.
Alguma vez pensou em desistir?
Sim. Queria procurar trabalho, mas prometeram-me tanto! Diziam que não podia arranjar emprego porque poderiam precisar de mim a qualquer momento. Isto demorou quase um ano, até que fui fazer a minha vida. Tinha de trabalhar para investir em mim e no meu sonho. Até que, mais tarde, decidi inscrever-me no The Voice Portugal.
Como surgiu essa oportunidade?
Ia para a praia com os meus amigos e vi o anúncio na RTP 1. Liguei e inscrevi-me. Lembro-me exatamente desse momento: o que disse, os passos que dei e estou muito orgulhoso dessa decisão.
Acreditou até ao fim que ia ganhar?
Acreditei. O importante é acreditar que as coisas vão acontecer. Sei que é um cliché mas os pensamentos positivos atraem sempre coisas positivas.
Durante o programa, recebeu a triste notícia de que o seu avô, que já estava hospitalizado, faleceu. Como foi gerir tantas emoções?
Tinha o Tira-teimas no domingo e o meu avô faleceu no sábado. Pensávamos que o funeral só ia ser na segunda mas conseguimos antecipar para eu poder ir. O funeral foi no domingo de manhã, fomos à missa e à tarde voltei. Foi um turbilhão de emoções, mas sinto que vim com um bocadinho dele, que me deu mais força...
Sentiu que ele iria olhar por si...
Sim. Antes da gravação, recebi a mensagem de uma enfermeira a dizer que só naquele momento é que tinha percebido quem eu era. Disse-me que o meu avô lhe tinha dito que tinha muito orgulho em mim, que tinha um neto que cantava tão bem que parecia um rouxinol e que chegou a dizer que eu ia conseguir ser alguém na música em Portugal.
Foram essas palavras que te deram força?
Muita, sem dúvida. Pensei: se ele se foi embora com esta ideia, que honrá-lo. Foi com essa força que subi ao palco. Acredito que ele seja a estrelinha que está a acompanhar este percurso. Que algures sorriu, deu-me um abraço e fez-me conseguir tudo aquilo que consegui.
Teve a Prova Cega mais vista a nível mundial, em 2016. Estava á espera deste impacto?
Não. Estava à espera de que as pessoas me reconhecessem e que poderia ter alguma vantagem nesse sentido, mas acabou por ser um boom maior do que aquilo que estava à espera.
Soube lidar com todo este mediatismo?
Sim, sim... Todos os meus amigos comentavam por eu estar nos tops do Youtube, do Twitter e ser notícia noutros países. É tudo muito bom e sempre soube lidar bem com isto. Sempre fui divindo as coisas. Ia aproveitando isso para me dar força mas, ao mesmo tempo, desvalorizava para ter os pés assentes na terra. Ainda tinha muitas semanas pela frente até chegar à final.
E com o assédio das fãs?
Lido bem. Acho graça a essas coisas, principalmente aos piropos femininos. São muito engraçados mas sei manter a distância. Sou homem e sei que vivemos muito do apoio das mulheres. Temos de saber alimentar q.b.
Como é que a sua namorada lida com esta nova fase?
Depende dos dias. Às vezes, sente que estão a entrar no seu território mas até lida bem. Acha muita graça ás meninas que me chamam de amor e que dizem que me amam. Acha-as fofinhas. Mas as minhas fãs gostaram dela e esse tipo de clima é engraçado e saudável.
Não há insegurança?
Não, não, acho que me sinto mais inseguro do que ela...
Porquê?
Porque gosto muito dela e não quero que se sinta desconfortável com esta situação e faço de tudo para que se sinta confortável. É ela quem me dá a segurança de que preciso.
Quais são os objetivos futuros?
Já falei com a Universal e agora vou estar de férias até Janeiro. No dia 1, vou preparar as minhas maquetas para enviar e começar a trabalhar num possível single ou disco. Vou utilizar algumas letras que já tenho escritas que falam de tudo o que já passei e no meu crescimento. Tenho muito trabalho pela frente.
A quem dedica esta vitória?
Á minha família, à minha namorada que esteve sempre presente na escolha das músicas e que todo este desafio também serviu para confiar mais na opinião dela, e a todas as pessoas que me apoiaram. Mas, principalmente, a mim, por tudo aquilo que já trabalhei, lutei e nunca desisti.
fonte: revista TV Guia